Dia a Dia

É mais um daqueles dias, abro a janela e o mundo está cinza. Não quero levantar da cama...
Faz mais ou menos duas semanas que meu mundo está aos pedaços, trancada em um quarto que antes era vazio, agora contém os delírios de minha depressão. Não tenho vontade de levantar, comer, respirar e o mundo vai girando girando...
Uma garrafa semi-vazia está ao meu lado, já não aguento mais esse sabor amargo, pego um cigarro e ali fico...
O dia vai melhorando, acordo novamente, sem saber quando peguei no sono, ninguém existe, ninguém aparece. Que horas são? "não sei"
O sol bate na janela, que dia lindo!
Podia jurar que se conseguisse sair desse local, me botaria pelo mundo. Andar, andar e andar...

(...)

Que dor no corpo, fica quase impossível de se mexer, o sol se fora. Que horas são? "não sei"
Tudo dói, porque? Percebo que não como a horas, me arrasto pra cozinha, já é noite.
Como alguma coisa e cambaleio para o quarto, assisto um seriado onde o doutor diz "Isolamento causa depressão"  ... "Ótimo" - Penso...
Se pelo menos fosse útil a alguma coisa, não estaria aqui.

Estou fi ... fi ... ficando com sono. E tudo novamente se esvai.

(...)

Que barulho foi esse? Credo... Olho pelo meu quarto, procurando algum sinal de mudança. Tudo continua exatamente onde estava, sem contar a pilha de roupa que tive que jogar pro lado, pra passagem. Que horas são? "não sei"
Meu corpo continua doendo, me da uma vontade de nunca mais acordar.
Preocupada com meus pensamentos tento despertar e caçar algo para fazer...
O dia está nublado, me parecem 6 horas da tarde, mas de que dia? "não sei" , não me importa...
A casa é grande e está vazia. Como sempre... Vez em quando alguém passar pra falar bom dia, vez em quando alguém passa por mim e percebe minha presença ao esbarrar nessa massa louca, triste, pelos olhares vejo o olhar de desgosto, a reprovação... perco a vontade e volto pro meu cubículo mental...

(...)

Acordo. Durmo. Acordo . Durmo... Que horas são? (...)  "não sei"

(...)

Hoje é mais um daqueles dias, como os que venho vivendo por muitos e muitos dias...
Acordo um dia numa manhã de domingo, aprece que o dia estará belo (...)
Belo dia pra morrer.
Percebo que não como a dias, devem ter se passado semanas que venho dormindo, tenho que fazer alguma coisa... ou essa sensação nunca mais vai embora.
Tomo aquele banho demorado, são mais ou menos 4 da manhã, o dia está clareando...
Sei que devo me cuidar, não posso ficar sozinha por muito tempo, não posso fazer diversas coisas pelo meu bem, por isso então saio pela rua... Me bate uma tristeza, uma saudade... Costumava sair mais, uma alma solitária, em cima de 4 rodas, vagando pela cidade. Que horas são? "Não sei, mas quero andar pra sempre"
Meu refúgio para distrações, minha pequena tábua de madeira também se fora. "Tenho que caminhar com as próprias pernas" digo a mim mesma... Crente que tudo vai melhorar.
Caminhei um quarteirão, quase quero voltar, mas luto contra essa vontade de voltar a dormir. O que está havendo de errado com esse corpo? Só pensa em dormir...

(...)

Hoje é mais um daqueles dias, lindo de sol. As crianças na rua, seus sorrisos. Rodinhas de amigos, todos rindo e se divertindo. Casais apaixonados, andando de mãos dadas pela calçada. Meu mundo vai se enchendo de alegria e esperança, não paro de sorrir...
Algo me faz nunca mais querer voltar pra casa. Percebo que tenho que retornar, ou a encrenca será maior por ter saído pra rua sem avisar...
O caminho da volta é cheio de surpresas, assim como o da ida...
Estou feliz...

(...)

O som do portão quase me faz vomitar, me despeço dos pássaros que me fizeram companhia...
Depois de escutar mil coisas desnecessárias... Que sono. Que sono...
Acordo. Que horas são? "não sei"


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terça-feira, 3 de julho de 2012 às 00:13 , 0 Comments